quarta-feira, 13 de abril de 2011

Editorial da Revista O Consolador (março 2011)





No curto período em que esta revista circula – de 2007 para cá – vários foram os flagelos naturais aqui analisados, desde o ocorrido em Áquila até o mais recente que acometeu a Nova Zelândia, e, todavia, o tema continua, em face do terremoto seguido do tsunami que abalou o Japão na semana passada.


Já dissemos oportunamente que as tragédias em nosso planeta prosseguem numa regularidade impressionante, só se modificando os locais atingidos, como a nos lembrar que é preciso cuidemos com maior intensidade dos objetivos que nos trazem ao mundo, sem nos prendermos em demasia às preocupações de ordem material, por natureza transitórias e passageiras.


As cenas do tsunami verificado no Japão, arrastando barcos, automóveis e casas com uma voracidade inabitual, foram impressionantes e nos mostraram, mais uma vez, como somos frágeis em face dessas ocorrências e o reduzido valor que têm, diante delas, os bens cuja aquisição nos consome tanto tempo e dinheiro.


À época da codificação do Espiritismo, os flagelos naturais eram também bastante comuns, embora a morosidade dos meios de comunicação não permitisse que o mundo deles tomasse conhecimento de forma instantânea, como se verifica atualmente.


O tema foi evidentemente tratado por Kardec em seus diálogos com os imortais. O assunto consta das questões 737 a 741 d´O Livro dos Espíritos, de que podemos extrair informações importantes que adiante sintetizamos:


1. Os flagelos destruidores têm grande utilidade do ponto de vista físico. Muitas vezes mudam as condições de uma região, mas o bem que deles resulta só as gerações vindouras o experimentam.


2. Tais fenômenos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência, de demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus, e lhe oferecem ensejo de manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se o não domina o egoísmo.


3. Os flagelos destruidores objetivam fazer com que a Humanidade terrena progrida mais depressa. A destruição daí decorrente é uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos.


4. É preciso, em face dessas ocorrências, ver o objetivo para que os resultados possam ser avaliados. Nós os consideramos flagelos apenas porque os apreciamos do nosso ponto de vista pessoal e devido aos prejuízos que eles causam.


5. Tais subversões são, porém, necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos.


6. Para conseguir a melhora da Humanidade, Deus emprega outros meios e não apenas os flagelos destruidores, pois deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. O homem, porém, não se aproveita desses meios e, por isso, faz-se necessário que seja castigado no seu orgulho e que se lhe faça sentir a sua fraqueza.


7. Muitos sucumbem nessas ocasiões, tanto o homem de bem como o perverso. Mas a vida do corpo bem pouca coisa é, e um século do nosso mundo não passa de um relâmpago na eternidade.


8. Os corpos são meros disfarces com que aparecemos no mundo. Por ocasião das grandes calamidades que dizimam os homens, o espetáculo é semelhante ao de um exército cujos soldados, durante a guerra, ficassem com seus uniformes estragados, rotos ou perdidos. Mas o general se preocupa mais com a vida de seus soldados do que com os uniformes deles.


9. Se considerássemos a vida qual ela é, e quão pouca coisa representa com relação ao infinito, menos importância lhe daríamos.


10. Seja a morte ocasionada por um flagelo, ou por uma causa comum, ninguém deixa por isso de morrer, desde que haja soado a hora da partida. A única diferença, em caso de flagelo, é que maior número parte ao mesmo tempo.


11. Numa futura existência, as vítimas dos flagelos acharão ampla compensação aos seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem murmurar.


12. Se, pelo pensamento, pudermos elevar-nos de maneira a ver a Humanidade e a abrangê-la em seu conjunto, esses flagelos não nos parecerão mais do que passageiras tempestades no destino do mundo.


13. Um dia será dado aos homens conjurar em parte os flagelos que os afligem, não, porém, como geralmente o entendem. Muitos flagelos resultam da imprevidência do homem. À medida que adquire conhecimentos e experiência, ele os vai podendo prevenir, se lhes sabe pesquisar as causas.


14. Entre os males que afligem a Humanidade há, contudo, aqueles que são de caráter geral, que estão nos decretos da Providência e dos quais cada indivíduo recebe, mais ou menos, o contragolpe. A esses nada pode o homem opor, a não ser sua submissão à vontade de Deus. 


*


Em face de considerações tão claras e objetivas, resta-nos apenas enviar aos povos do Japão e dos países devastados em mais esse episódio as nossas vibrações e as nossas preces, para que todos – eles e nós – possamos extrair destes momentos de dor forças novas para darmos prosseguimento à tarefa que nos compete no mundo em que por ora nós estamos.