terça-feira, 18 de junho de 2013

A surpresa do crente



O devoto feliz experimentava a doce comoção do espetáculo celeste. Mais que a perspectiva do plano divino, porém, via, extasiado, o Senhor à frente dele.

Chorava, ébrio de júbilo. Sim, era o Mestre que se erguia, ali, inundando-lhe o espírito de alegria e de luz.

Sentia-se compensado de todos os tormentos da vida humana. Esquecera espinhos e pedras, dificuldades e dores.
Não vivia, agora, o instante supremo da realização? não esperara, impacientemente, aquele minuto divino? suspirara, muitos anos, por repousar na bem-aventurança. Recolhera-se em si próprio, no mundo, aguardando aquela hora de imortalidade e beleza. Fugira aos homens, renunciara aos mais singelos prazeres, distanciara-se das contradições da existência terrestre, afastara-se de todos os companheiros de humanidade, que se mantinham possuídos pela ilusão ou pelo mal. Assombrado com as perturbações sociais de seu tempo e receoso de complicar-se, no domínio das responsabilidades, asilara-se no místico santuário da adoração e aguardara o Senhor que resplandecia glorificado, ali diante dos seus olhos.

Jesus aproximou-se e saudou-o.

Oh! semelhante manifestação de carinho embriagava-o de ventura. Sentia-se mais poderoso e mais feliz que todos os príncipes do mundo, reunidos!...

O Divino Mestre sorriu e perguntou-lhe:
– Dize-me, discípulo querido, onde puseste os ensinamentos que te dei?

O crente levou a destra ao tórax opresso de alegria e respondeu:
– No coração.

– Onde guardaste – tornou o Amigo Sublime – minhas continuadas bênçãos de paz e misericórdia?
  – No coração – retrucou o interpelado.

– E as luzes que acendi, em torno de teus passos?

– Tenho-as no coração – repetiu o devoto, possuído de intenso júbilo.

O Mestre silenciou por instantes e indagou novamente:
– E os dons que te ministrei?

– Permanecem comigo – informou o aprendiz –, no recôndito da alma.

Silenciou o Cristo e, depois de longo intervalo, inquiriu, ainda:
– Ouve! onde arquivaste a fé, as dádivas, as oportunidades de santificação, as esperanças e os bens infinitos que te foram entregues em meu nome?

Reafirmou o discípulo, reverente e humilde:
– Depositei-os no coração, Senhor!...

A essa altura, interrompeu-se o diálogo comovente. Jesus calou-se num véu de melancolia sublime, que lhe transparecia do rosto.

O devoto perdeu a expressão de beatitude inicial e, reparando que o Mestre se mantinha em silêncio, indagou :
– Benfeitor Divino, poderei doravante abrigar-me na paz inalterável de tua graça? já que fiz o depósito sagrado de tuas bênçãos em meu coração, gozarei o descanso eterno em teu jardim de infinito amor?

O Mestre meneou tristemente a cabeça e redargüiu:
– Ainda não!... o trabalho é a única ferramenta que pode construir o palácio do repouso legítimo. Por enquanto, serias aqui um poço admirável e valioso pelo conteúdo, mas incomunicável e inútil... Volta, pois, à Terra! Convive com os bons e os maus, justos e
injustos, ignorantes e sábios, ricos e pobres, distribuindo os bens que represaste! Regressa, meu amigo, regressa ao mundo de onde vieste e passa todos os tesouros que guardaste no santuário do coração para a oficina de tuas mãos!...

Nesse momento, o devoto, em lágrimas, notou que o Senhor se lhe subtraía ao olhar angustiado.
Antes, porém, observou que o Cristo, embora estivesse totalmente nimbado de intensa luz, trazia nas mãos formosas e compassivas os profundos sinais dos cravos da cruz.


Livro: Pontos e Contos. Autor: Humberto de Campos.
Psicografado por Francisco Cândido Xavier

A tarefa da educação




Descer para ajudar é a arte divina de quantos alcançaram conscienciosamente a vida mais alta.” (Emmanuel, no livro “Fonte Viva”, item 72, psicografia de Francisco Cândido Xavier.)
 
Dentro do contexto social em que vivemos, a tarefa da educação requer muita paciência, determinação e persistência, pois que não se obtêm os resultados desejados de forma imediata.

Orientar o povo ensinando-o a pensar, escolher caminhos e agir dentro dos padrões da decência, dignidade e excelsitude, requer, de quem já identificou os reais valores da vida, um esforço enorme e perseverante, uma vez que não é nada fácil promover mudanças, principalmente em se tratando da formação de caráter.

Em assim sendo, é de notar a dificuldade em encontrarmos criaturas prontas para tal mister. Primeiro porque quem educa precisa ser educado; segundo, nem todos os que estão preparados se arriscam a descer de suas posições para estender as mãos aos que seguem na retaguarda.

Ajudar os necessitados de toda ordem é, sem sombra de dúvida, a arte da fraternidade, prescrita por Jesus dentro do ensinamento: “amai-vos uns aos outros”, e, em realidade, poucos se atrevem a executá-la.

No entanto, mesmo ainda carentes de uma estrutura maior e mais consistente, podemos, de nossa parte, oferecer algo em favor daqueles que caminham junto de nós, pois sempre estaremos abaixo dos que sabem mais, mas acima de quem sabe menos. E, obviamente, esses últimos terão algo a aprender conosco.

Perante as crianças que a vida colocou ao nosso lado, demonstremos a elas exemplos de trabalho, ânimo e coragem diante dos acontecimentos cotidianos, para que identifiquem a necessidade da perseverança e da determinação, em todos os momentos da existência.

Ao lado dos adultos, com atos e ações, informemos otimismo e alegria, honradez e honestidade, e eles entenderão a necessidade de seguir seus dias pautados em atitudes semelhantes.

No lar, ministremos lições de respeito e consideração, amor e compreensão, pois a tarefa de conviver com pessoas, mesmo no contexto de uma família, não é das mais tranquilas, pois muitas vezes a renúncia e a resignação precisam temperar os nossos gestos e comportamentos, para que consigamos manter o equilíbrio do grupo todo.

Na rua, no lazer ou no ambiente de trabalho profissional, a compreensão e a tolerância não podem estar distantes de nós, isso porque situações existem que somente uma grande dose de calma e serenidade será capaz de informar que somos criaturas ajustadas e prontas para a vida social.

Dessa forma, nunca podemos olvidar que educar é a arte de dar bons exemplos, que marcam mais do que eloquentes e inflamados discursos. As palavras informam, orientam, ensinam, mas os exemplos apresentados convencem mais rapidamente.

Portanto, se já conseguimos nos enquadrar no contexto daqueles que podem algo ensinar, em favor do progresso da humanidade, não percamos tempo e saiamos a ofertar o que temos de bom. Descer para ajudar os que seguem à retaguarda é, incontestavelmente, gesto de quem já vislumbrou sua real finalidade na vida: a de servir incondicionalmente.


E em momento nenhum nos façamos superiores diante dos inferiores, nem fortes diante dos fracos. Usemos a humildade e o amor, e nossos atos se cobrirão de um magnetismo irresistível, envolvendo de forma salutar aquele a quem desejamos servir.


Waldenir Aparecido Cuin