quarta-feira, 11 de junho de 2014


A omissão dos bons





Várias questões de O Livro dos Espíritos figuram entre as minhas preferidas. A 932 é uma delas.
"932. Por que, no mundo, tão amiúde a influência dos maus sobrepuja a dos bons?”
“Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão.”
Conheço gente que pensa serem o bem e o mal duas forças antagônicas e de igual poder que vivem em eterna luta. É a visão maniqueísta, sobre a qual já falei neste livro.
É equivocado achar que o bem e o mal têm igual potência. O mal é somente a ausência do bem. Só isso. Quando o bem chega, o mal bate em retirada. É como a escuridão. Ao acendermos uma luz, um fósforo que seja, a escuridão perde a força. Se a rua está às escuras e acendemos a luz do quarto, não é a escuridão que entra pela janela, é a luz que sai por ela.
Para quem acha que estou sendo um tanto piegas, vamos a exemplos com mais sustança, como dizem os antigos.
O livro Libertação, do Espírito André Luiz, psicografia de Chico Xavier, mostra um vasto local de baixíssima vibração espiritual comandado por uma entidade astuta, mas profundamente infeliz, pois se mostra enredada em planos de ódio e vingança. Para pô-los em prática, comanda vários Espíritos igualmente infelizes, que cumprem suas ordens, atuando sobre o psiquismo de várias criaturas encarnadas. A equipe da qual André Luiz faz parte inicia, então, com amor, coragem e paciência, um plano que, aos poucos, vai conduzindo aquelas almas à redenção de si mesmas pelo trabalho de reerguimento moral. Ao final do livro, a mãe do, digamos, chefe do bando aparece, esplendorosa, nimbada de luz para buscar o filho, que não a via há muito tempo, visto que, tão logo desencarnou, deixou-se levar por sentimentos inferiores. Ele, então, emocionado ante a presença da mãe, deixa cair toda a máscara de crueldade, revela-se frágil, carente, a mãe o leva embora e a luz do bem se faz presente, inundando o lugar de paz. O bem não foi tímido, foi audacioso, trabalhou de forma diligente e o mal se dissipou.
Outro ótimo exemplo está no livro Sexo e Obsessão, de Manoel Philomeno de Miranda, psicografia de Divaldo P. Franco. No livro, o Marquês de Sade (Sim, ele mesmo!), Espírito altamente vinculado ao sexo vicioso – tanto que a palavra sadismo deriva do nome dele – mesmo séculos depois de sua morte, é também surpreendido, no plano espiritual, pela presença da mãe. E com o concurso dos amigos espirituais (Sim, eles mesmos!), é iniciado um processo de redenção daquela alma, pois o bem sempre vence.
Assim também deve ser conosco. Somos de fato muito tímidos quando nos defrontamos com o mal. E não estou falando do mal enorme, simbolizado por um vampiro, uma assombração ou coisa que o valha. Tampouco estou falando do bem em grandes proporções. Aliás, precisamos parar de achar que bem e mal são coisas de grandes escalas. Também o são, mas ambos estão presentes nas pequenas ações do dia a dia.
É curioso esse dado do ser humano. Achar que para fazer o bem é necessária grande soma em dinheiro, feitos grandiosos etc. Conheço gente que diz ter o sonho de construir um hospital se ganhasse na loteria. De fato é um sonho louvável, mas, enquanto isso, os bancos de sangue vivem vazios, suplicando por doadores, e quase ninguém aparece para doar sangue. Por essa razão, o mal, representado por doentes necessitados e baixos estoques de sangue, prospera. E prospera por quê? Por fraqueza dos bons, traduzida em preguiça, falta de interesse, medo da agulha... 
Em 2005, estava em Brasília, quando tive a oportunidade de assistir ao seminárioDiretrizes para uma vida feliz, ministrado pelo médium e tribuno baiano Divaldo Pereira Franco. Foi um seminário de dois dias (sábado e domingo à tarde). No domingo de manhã, foi promovido um bate-papo de Divaldo com dirigentes dos centros espíritas da região, do qual também participei.
Uma das perguntas feitas a Divaldo versou justamente sobre se devemos ou não chamar atenção de algum companheiro do centro espírita que está fazendo algo errado. Divaldo disse que sim. Se a pessoa está errada, deve ser chamada a atenção, lógico que com respeito e carinho, mas precisa ser advertida, a fim de não continuar cometendo o mesmo erro. - E se ela ficar chateada? Perguntou alguém. Resposta de Divaldo:- Se ela ficar chateada é problema dela. O que não podemos é deixar o mal triunfar por receio nosso.
Ele, então, aproveita a deixa e conta que, certa vez, depois de uma série de palestras, estava na fila do check in do aeroporto, a fim de voltar para Salvador, onde mora. Veio, então, um sujeito e furou a fila, postando-se à frente de Divaldo que, então, disse: - O senhor furou a fila. O homem retrucou: - Ah, mas eu estou com pressa. Divaldo rebateu:- As outras pessoas também. Foi por isso que elas chegaram antes do senhor. Qual é o seu destino? O homem respondeu: - Salvador. Divaldo finalizou: - O meu também. Por favor, para o fim da fila.
O homem, então, não teve alternativa a não ser procurar o fim da fila e lá esperar a sua vez.
Finalizando, Divaldo disse uma frase que nunca mais irei esquecer e que levo comigo até hoje, a fim de fazer valer meus direitos e não ser omisso diante do mal: - Não confundam falta de energia com bondade.
Espero de coração que você, que lê estas linhas, tenha essa frase sempre em mente e não deixe prosperar o mal presente nas pequenas coisas do dia a dia.


Marcelo Teixeira

Visão espírita do aborto - entrevista com Dra. Marlene Nobre



http://youtu.be/tfbVgQHbduk