domingo, 12 de junho de 2011
A esperança
Eu me chamo a Esperança; sorrio à vossa entrada na vida; eu vos sigo passo a passo, e não vos deixo senão nos mundos
onde se realizam, para vós, as promessas de felicidade que ouvis, sem cessar, murmurar aos vossos ouvidos. Eu sou
vossa fiel amiga; não repilais minhas inspirações: eu sou a Esperança.
Sou eu que canto pela voz do rouxinol e que lança aos ecos das florestas essas notas lamentosas e cadenciadas que vos
fazem sonhar com os céus: sou eu quem inspira à andorinha o desejo de aquecer seus amores ao abrigo de vossas moradas;
eu brinco na brisa leve que acaricia os vossos cabelos; eu derramo aos vossos pés os perfumes suaves das flores de vossos canteiros, e é com dificuldade que dais um pensamento a esta amiga que vos é tão devotada! Não a repilais: é a Esperança.
Eu tomo todas as formas para me aproximar de vós: eu sou a estrela que brilha no azul, o quente raio de sol que vos vivifica; embalo vossas noites de sonhos ridentes; expulso para longe de vós a negra inquietação e os pensamentos sombrios; guio vossos passos para o caminho da virtude; acompanho-vos em vossas visitas aos pobres, aos aflitos, aos moribundos e vos inspiro as palavras afetuosas que consolam; não me repilais: eu sou a Esperança.
Eu sou a Esperança! sou eu que, no inverno, faço crescer sobre a crosta dos carvalhos os musgos espessos dos quais os
pequenos pássaros constroem seu ninho; sou eu que, na primavera, corôo a macieira e a amendoeira de suas flores
brancas e rosas, e as derramo sobre a terra como uma juncada celeste que faz aspirar aos mundos felizes; estou
sobretudo convosco quando sois pobres e sofredores; minha voz ressoa, sem cessar, em vossos ouvidos; não me repilais: eu sou a Esperança.
Não me repilais, porque o anjo do desespero me faz uma guerra obstinada e se esgota em vãos esforços para me substituir junto de vós; não sou sempre a mais forte e, quando ele chega a me afastar, vos envolve com suas asas fúnebres, desvia os vossos pensamentos de Deus e vos conduz ao suicídio; uni-vos a mim para afastar sua funesta influência e deixai-vos embalar docemente em meus braços, porque eu sou a Esperança.
FÉLICIA.
Filha do médium.
Revista Espírita nº 2 – Ano IV
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