quarta-feira, 31 de julho de 2013

O amor cobre a multidão dos pecados



De vez em quando reaparece em nosso meio uma velha questão acerca da chamada pena de talião. Ela continua existindo ou foi revogada por Jesus?

A pena de talião, que outros chamam de lei de talião, consiste na rigorosa reciprocidade do crime e da pena, apropriadamente chamada retaliação. Essa lei é frequentemente expressa pela máxima olho por olho, dente por dente. Trata-se de uma das mais antigas leis existentes em nosso mundo, cuja origem encontramos no Código de Hamurabi, em 1780 a.C., na Babilônia. Moisés, algum tempo depois, a consagrou em Israel.

Conforme se lê na questão 764 de O Livro dos Espíritos, a pena de talião, tal como era aplicada na antiguidade, não mais vigora. O que vigora no mundo é, em verdade, a justiça de Deus e é, obviamente, Deus quem a aplica.

Conhecida na doutrina espírita como lei de causa e efeito, ela aparece no Evangelho resumida numa frase que Jesus disse ao apóstolo Pedro: “Pedro, guarda a espada, porque todo aquele que matar com a espada perecerá sob a espada”.

O rigor de tal pena pode, contudo, ser suavizado por uma outra lei que se tornou conhecida graças ao citado apóstolo: “O amor cobre a multidão dos pecados”, frase que integra a 1ª Epístola de Pedro, cap. 4, versículo 8, o que significa que muitas pessoas podem alterar o mapa de sua vida amando, ajudando, fazendo o bem, uma ideia que Divaldo Franco resumiu numa frase bem conhecida: “O bem que fazemos anula o mal que fizemos”.

O tema foi examinado por Allan Kardec no texto intitulado “Código Penal da Vida Futura”, que faz parte do cap. VII da 1ª Parte do livro O Céu e o Inferno.

Segundo o Codificador, quando o assunto é a regeneração de quem lesou o próximo, o arrependimento, embora seja o primeiro passo, não basta. É preciso ajuntar ao arrependimento a expiação e a reparação.

Arrependimento, expiação e reparação constituem, pois, as condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências.

O arrependimento, afirma Kardec, suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; mas somente a reparação pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. Não fosse assim, o perdão seria uma graça, não uma anulação.


Quando Pedro escreveu a epístola a que nos reportamos, ele certamente se referia à expiação, que pode ser perfeitamente amenizada e até excluída pela prática do bem e da caridade, que são a expressão maior do amor. Na literatura espírita encontramos diversos exemplos disso. 

Muitas vezes a pessoa deveria perder um braço inteiro, em face de um delito cometido no passado, e perde apenas um dedo. No tocante à reparação, isso, porém, não se dá.

Lembremos o que Kardec escreveu a respeito:
A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal. Quem não repara os seus erros numa existência, por fraqueza ou má-vontade, achar-se-á numa existência ulterior em contacto com as mesmas pessoas que de si tiverem queixas, e em condições voluntariamente escolhidas, de modo a demonstrar-lhes reconhecimento e fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha feito. Nem todas as faltas acarretam prejuízo direto e efetivo; em tais casos a reparação se opera, fazendo-se o que se deveria fazer e foi descurado; cumprindo os deveres desprezados, as missões não preenchidas; praticando o bem em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-se humilde se foi orgulhoso, amável se foi austero, caridoso se foi egoísta, benigno se foi perverso, laborioso se foi ocioso, útil se foi inútil, frugal se foi intemperante, trocando em suma por bons os maus exemplos perpetrados”. (O Céu e o Inferno, 1ª Parte, cap. VII.)

O importante, no entanto, é que tudo isso poderá ser feito não necessariamente debaixo de um grande sofrimento, em face do abrandamento lembrado em boa hora pelo apóstolo Pedro, sintetizado na frase: “O amor cobre a multidão dos pecados”.


Editorial da Revista O Consolador(junho 13)

domingo, 28 de julho de 2013

Pequenos passos



É interessante como ensaiamos movimentos racionalizados, para buscar compreender o movimento do universo e as ações divinas.

Em um desses movimentos, coloquei-me a refletir: existe em nós um movimento de tentativas de independência que começa a brotar por meio das vivências reencarnatórias, ao longo dos ciclos evolutivos.

Ainda criança, aprendemos pequenos movimentos. O pequenino se atreve a largar às vezes a mão dos pais, para se arriscar na aventura de firmar suas perninhas. Mesmo cambaleando, em impulso corajoso, lança-se. Um lançamento extraordinário, mas que guarda o olhar nas mãos protetoras que o esperam.

Percebo que em nosso movimento evolutivo nos assemelhamos aos pequeninos. Mesmo com as pernas ainda frágeis, aventuramo-nos em direção à nossa independência. 

Buscamos construir a nossa individualidade e responder à pergunta constante: “Quem somos?”.

Ao mesmo tempo, mobilizados por um impulso de preservação, estamos sempre buscando um olhar seguro e uma mão protetora que possa nos proteger e acalentar. 

Criamos um movimento de idas ao novo e voltas ao velho. De obediência e desobediência. Acalentar e ser acalentado. Ser livre e estar preso a algo.

Brilhe a vossa luz” (Mateus, 5:16), aconselhou-nos o Mestre Jesus. Brilhar, verbo em ação, traz-nos como recordação as estrelas, que só se fazem vistas por meio da vasta escuridão. Não podemos dizer que a escuridão pode nos atrapalhar quando, de fato, a nossa estrela queira brilhar a sua luz.

Luz, raio energético que pode atravessar meios materiais e imateriais, perpetua, procurando uma brecha. Quer existir, se puder.
Que, pela abertura das vivências evolutivas, possamos existir no vasto campo cósmico, não somente como algo passageiro, mas como uma energia que baila, buscando sua existência brilhante em meio ao breu das possibilidades da vida.

Que nossas mãozinhas, ainda na infância da nossa condição evolutiva, permitam-nos buscar a independência necessária ao nosso crescimento, sem esquecer a origem e os aprendizados de onde viemos.


Ainda que pequenos, firmes para crescer!


Fernanda Leite Bião

quarta-feira, 24 de julho de 2013






Bênçãos de Deus! – para vê-las,
Basta olhar por onde fores,
O céu repleto de estrelas,

A terra cheia de flores.

Livro: Trovadores do além. Espírito: Gomes Leite
Psicografia de Francisco C Xavier

terça-feira, 23 de julho de 2013

Os anjos guardiães



É uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos pelo seu encanto e pela sua doçura: a dos anjos guardiães. Pensar que se tem, junto de si, seres que vos são superiores, que estão sempre aí para vos aconselhar, vos sustentar, para vos ajudar a escalar a áspera montanha do bem, que são amigos mais seguros e mais devotados que as mais íntimas ligações que se possa contrair nesta Terra, não é uma idéia bem consoladora? Esses seres estão aí por ordem de Deus; foi ele quem os colocou junto de nós, e estão aí pelo amor dele, e cumprem, junto de nós, uma bela mas penosa missão. Sim, em qualquer parte que estejais, ele estará convosco: os calabouços, os hospitais, os lugares de deboche, a solidão, nada vos separa desse amigo que não podeis ver, mas do qual vossa alma sente os mais doces impulsos e ouve os sábios conselhos.

Por que não conheceis melhor essa verdade! Quantas vezes ele vos ajudou nos momentos de crise, quantas vezes vos salvou das mãos de maus Espíritos! Mas, no grande dia, esse anjo do bem terá, freqüentemente, a vos dizer: "Não te disse isso? E tu não o fizeste. Não te mostrei o abismo, e tu nele te precipitaste; não te fiz ouvir na consciência a voz da verdade, e não seguiste os conselhos da mentira?" Ah! questionai vossos anjos guardiães; estabelecei,
entre ele e vós, essa ternura íntima que reina entre os melhores amigos. Não penseis em não lhes ocultar nada, porque são o olho de Deus, e não podeis enganá-los. Sonhai com o futuro, procurai avançar nesse caminho, vossas provas nele serão mais curtas, vossas existências mais felizes. Ide! homens de coragem; lançai longe de vós, uma vez por todas, preconceitos e dissimulações; entrai no novo caminho que se abre diante de vós; caminhai, caminhai, tendes guias, segui-os: o objetivo não pode vos faltar, porque esse objetivo é o próprio Deus.

Àqueles que pensam que é impossível a Espíritos verdadeiramente elevados se sujeitarem a uma tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que influenciamos vossas almas estando a vários milhões de léguas de vós: para nós o espaço não é nada, e mesmo vivendo em um outro mundo, nossos espíritos conservam sua ligação com o vosso. Gozamos de qualidades que não podeis compreender, mas estejais seguros que Deus não nos impôs uma
tarefa acima de nossas forças, e que não vos abandonou sozinhos na Terra, sem amigos e sem sustentação. Cada anjo guardião tem o seu protegido, sobre o qual ele vela, como um pai vela sobre seu filho; ele é feliz quando o vê seguir o bom caminho, e geme quando seus conselhos são desprezados.

Não temais nos cansar com vossas perguntas; ficai, ao contrário, em relação conosco: sereis mais fortes e mais felizes. São essas comunicações, de cada homem com seu Espírito familiar, que fazem todos os homens médiuns, médium ignorados hoje mas que se manifestarão mais tarde, e que se espalharão como um oceano sem limites para refluir a incredulidade e a ignorância. Homens instruídos, instruí; homens de talento, elevai vossos irmãos. Não sabeis que obra cumpris assim: é a do Cristo, aquela que Deus vos impôs. Por que Deus vos deu a inteligência e a ciência, se não para partilhá-las com vossos irmãos, certamente para avançá-los no caminho da alegria e da felicidade eterna.



Revista Espírita, 1859. 
São Luís, Santo Agostinho

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O rio





Uma gota de chuva 

A mais, e o ventre grávido 

Estremeceu, da terra. 

Através de antigos 

Sedimentos, rochas 

Ignoradas, ouro 

Carvão, ferro e mármore 

Um fio cristalino 

Distante milênios 

Partiu fragilmente 

Sequioso de espaço 

Em busca de luz. 



Um rio nasceu



Vinícius de Moraes

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Em silêncio



Há muito ruído no mundo.
Tumulto na multidão.
Zoada nas ruas.
Barulho no trabalho.
Vozerio no lar.
Sons desordenados, movimento incessante produzindo inquietação e loucura.
Em todo lugar a correria infrene.
Desespero clamando.
Maldição gritando.
Angústia chorando.
Pela boca da aflição gemem os homens.
Há muito ruído nos corações...

Faça silêncio na sua alma.
Silêncio em torno dos seus passos.
Quietação em volta das suas atividades.
Apague todos os ruídos com o veludo da paz : ruídos internos e não apenas sons externos.

No imenso sossego de espírito, você escutará a voz do Cristo falando com você, vibrando no seu ser.
Abra a concha acústica da alma e como Lázaro você ouvirá o chamado para a Vida, saindo, lentamente, do cárcere da morte em cujo tumulto e perturbação você por enquanto reside.


Livro: Panoramas da vida.
Psicografado por Divaldo Franco. Espírito: Ignotos

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Existência de Deus




Conta-se que um velho árabe analfabeto orava com tanto fervor e com tanto carinho, cada noite, que, certa vez o rico chefe de grande caravana chamo-o à sua presença e lhe perguntou:

- Por que oras com tanta fé? Como saber que Deus existe, quando nem ao menos sabes ler?

O Crente fiel respondeu:

- Grande Senhor, conheço a existência de Nosso Pai Celeste pelos sinais dele.

- Como assim? - Indagou o chefe, admirado.

O servo humilde explicou-se:

- Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como reconhece quem a escreveu?

- Pela letra.

- Quando o senhor recebe uma jóia, como é que se informa quanto ao autor dela?

- Pela marca do ourives.

O empregado sorriu e acrescentou:

- Quando ouve passos dos animais, ao redor da tenda, como sabe, depois, se foi um carneiro, um cavalo, ou boi?

- Pelos rastros - respondeu o chefe, surpreendido.

Então, o velho crente convidou-o para fora da barraca e, mostrando-lhe o céu onde a lua brilhava, cercada por multidões de estrelas, exclamou, respeitoso:

-  Senhor, aqueles sinais, lá em cima, não podem ser dos homens!

Nesse momento, o orgulhoso caravaneiro, de olhos lacrimosos, ajoelhou-se na areia e começou a orar também.


Meimei

Texto extraído do Jornal: A Caridade - Ano XIII - n.º 139- Março de 1993

quarta-feira, 3 de julho de 2013

No lar




Seja qual for a condição em que te encontras no lar, recorda que ele é para tua alma, a casa e a escola; a oficina e o hospital, donde deves cultivar a paciência e a humildade, o trabalho e o amor.

Todos os componentes do grupo em que o lar te apresentam, são peças vivas na engrenagem da vida, a oferecer-te as oportunidades mais belas de renúncia e serviço, para o engrandecimento de tua alma.

Sê grato em todas as circunstâncias da vida, oferecendo compreensão e desculpa, entendimento e perdão.

Recorda a necessidade de auxiliar sempre, ao irmão que como tu, veio a procurar no recinto do lar, o aprimoramento das virtudes que lhe assinalam o curso da existência. A vitória dele, redundará em benefício para o teu coração, não apenas nesta hora em que lhes disputa a companhia, mas, como também o dia de amanhã dentro do tempo infinito, quando o reencontres na figura de um homem de bem dentro da humanidade.

Teu lar, tua benção maior! Dignifica-o com a tua presença! Sê para os corações que te compartilham a caminhada, a presença da paz refletindo-a em tuas ações.

Não te canses de repetir os pequenos deveres do dia a dia, embora isto te custe os mais altos sacrifícios para tua alma. 

As horas e os dias, devolver-te-ão a soma de benefícios ou de desacertos que tiveres plasmado em torno de teus pés.

Sê, nesta oficina gloriosa, o irmão, o amigo, o professor e o enfermeiro de todos, enquanto as forças e a oportunidade te favoreçam, porque amanhã, pela imposição da própria vida, haverás de precisar do amparo de irmãos, de amigos, de professores e de enfermeiros, para a restituição das energias perdidas. 


Psicografia de Aurora Barba