sábado, 11 de junho de 2011

Água de remanso



Cismo o sereno silêncio:
sou: estou humanamente
em paz comigo: ternura.


Paz que dói, de tanta.
Mas orvalho. Em seu bojo
estou e vou, como sou.


Ternura: maneira funda,
cristalina do meu ser.
Água de remanso, mansa
brisa, luz de amanhecer.


Nunca é mágoa mordendo.
Jamais a turva esquivança,
o apego ao cinzento, ao úmido,
a concha que aquece na alma
uma brasa de malogro.


É ter o gosto da vida,
amar o festivo, o claro,
é achar doçura nos lances
mais triviais de cada dia.


Pode também ser tristeza:
Tranquilo na solidão macia.
Apaziguado comigo,
meu ser me sabe: e me finca
no fulcro vivo da vida.


Sou: estou e canto.


Thiago de Mello

A caridade


 

 

Kardec cunhou a máxima “Fora da caridade não há salvação”


1. Em todos os tempos houve criaturas que ensinaram a caridade, mas poucos a praticaram verdadeiramente, a exemplo de Jesus, que não apenas a exemplificou como expressamente a indicou como o caminho que pode levar a criatura humana ao reino dos céus.   


2. Allan Kardec entendeu claramente o ensino do Cristo e por isso estabeleceu como lema do Espiritismo a conhecida frase “Fora da caridade não há salvação”, utilizada pela primeira vez pelo Codificador no livro “O que é o Espiritismo”, lançado em 1859. 


3. Comentando referida máxima, escreveu Paulo de Tarso (Espírito): “Meus filhos, na máxima: Fora da caridade não há salvação estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. Ela brilha no céu, como auréola santa na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai. Reconhecê-los-ei pelo perfume de caridade que espalham em torno de si. Nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem divina. Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem, do que apresentando-a como regra, por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviará”.  (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, item 10.) 


4. Para fins de estudo é preciso se estabeleça a diferença entre caridade, esmola e filantropia. Com relação à caridade, a questão no 886 de “O Livro dos Espíritos” esclarece que o verdadeiro sentido dessa palavra, tal como a entendia Jesus, abarca três virtudes: benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas.  

A caridade não se restringe às oferendas transitórias

5. A caridade, segundo esse entendimento, não se limita, pois, à esmola mas abrange todas as relações em que nos encontramos com nossos semelhantes, estejam eles em posição de inferioridade, igualdade ou superioridade em relação a nós. A caridade nos prescreve a indulgência, porque de indulgência também precisamos, e proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se costuma fazer no mundo em que vivemos.  


6. O homem verdadeiramente caridoso procura elevar e não rebaixar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa. Sendo a virtude por excelência, a caridade constitui a mais alta expressão do sentimento humano, sobre cuja base as construções elevadas do Espírito encontram firmeza para desdobrarem atividades enobrecidas em prol de todas as pessoas. 


7. Confundida vulgarmente com esmola, a caridade excede, sob qualquer aspecto considerado, as doações externas com que o homem supõe em tal atividade encerrá-la. A esmola, evidentemente, não merece reprovação, mas sim a maneira pela qual habitualmente é dada. O homem de bem, que compreende a caridade segundo o pensamento do Cristo, vai ao encontro do desgraçado, sem esperar que este lhe estenda a mão, pois sabe que o homem condenado a pedir esmola se degrada física e moralmente e se embrutece. 


8. Sem dúvida, é valioso todo gesto de generosidade, quando consubstanciado em dádiva oportuna àquele que padece essa ou aquela privação. No entanto, a caridade que se restringe às oferendas transitórias nada mais é que filantropia, esse ato de amor fraterno e humano que distingue as pessoas que destinam altas somas à edificação de obras de incontestável valor, financiando múltiplos setores da ciência, da arte e da cultura.  

Para a legítima caridade é imprescindível a fé

9. Henry Ford, John Rockefeller, Ted Turner, Bil Gates foram ou são filantropos eméritos, a cuja contribuição a Humanidade deve serviços de inapreciável qualidade. Vicente de Paulo, Damien de Veuster, João Bosco, Madre Teresa de Calcutá e tantos outros de idêntica estatura transformaram-se em apóstolos da caridade, pois que, nada possuindo em termos de valores transitórios, ofertaram tesouros de amor e fecundaram em milhões de vidas o pólen da esperança, da saúde, da alegria de viver.  


10. Assevera Joanna de Ângelis que a caridade legítima requer como requisito imprescindível a fé. A caridade – diz Joanna –  é, sobretudo, cristã. A filantropia, apesar da valiosa ajuda que realiza, independe da fé e não se caracteriza pelo sentimento cristão. Irreligiosa, pode brotar em qualquer indivíduo.  


11. A caridade bem sentida e vivida estabelece verdadeira fraternidade entre os homens, visto que todos somos filhos de um mesmo Pai e, do mesmo modo que os Espíritos superiores nos amparam e sustentam nas lutas humanas, devemos igualmente amparar nossos irmãos em humanidade, inclusive aqueles que a sociedade considera criminosos. 


12. Evitemos julgar as ações cometidas por esses companheiros, auxiliando-os naquilo que nos for possível, porque a caridade, como já vimos, implica a necessidade de indulgência e de benevolência para com todos, sem qualquer exceção.


Thiago Bernardes

Amor e Matizes





Alcança-se a plenitude terrena quando se consegue amar.

Amar, sem qualquer condicionamento ou imposição, constitui meta que todos devem perseguir, a fim de atingir o triunfo existencial.

O amor é um diamante que, para poder brilhar, necessita ser arrancado da ganga que o envolve no seu estágio primário. Nasce do coração no rumo da vida, expandindo-se na razão direta em que conquista espaço interno, sempre mais expressivo e irradiante.

É realização do sentimento que se liberta do egoísmo, que se transmuda em compaixão, em solidariedade, em compreensão.

Possuidor de emoções superiores, expressa o nível de evolução de cada ser, à media que se agiganta.

Quando alguém empreende a tarefa de ser aquele que ama, ocorre uma revolução significativa no seu psiquismo, e todo ele se transforma numa chama que ilumina sem consumir-se, numa tranqüilidade que não se altera.

Não poucas vezes, aquele que desperta para o amor experimenta frustração e conflito, por não ser entendido ou esperar que os resultados do seu empenho sejam imediatos e logo a plantação de ternura seja abençoada pelas flores perfumadas da recompensa.
Trata-se, essa reflexão incorreta, de algum remanescente ainda egoística em torno de equivocado conceito sobre o amor.

É muito gratificante acompanhar o desenvolvimento de qualquer empresa, observando os resultados que apresenta, os frutos que produz, as gratificações que oferece. No entanto, não é essa a resposta do empreendimento afetivo.

Não estando as criaturas acostumadas ao amor, mas sim à convivência com as utopias, os interesses mesquinhos e competitivos, quando o defrontam, afligem-se, desconfiam, reagem negativamente, recusam-no. É perfeitamente natural essa conduta, porque defluente do desconhecimento dos inexcedíveis benefícios do amor.

Tudo quanto é inusitado inspira suspeição.

Porque alguém não se sente em condições de amar, não acredita que outrem se encontre nesse patamar do sentimento elevado.

O amor, porém, que insiste e persevera, termina por vencer quaisquer resistências, porque não se impõe, não gera perturbação, não toma, somente oferece.

O amor torna o ser compreensivo e dedicado, emulando-o a prosseguir na sementeira da bondade, do bem-estar próprio e geral.

O amor é sempre mais enriquecedor para quem o cultiva e esparze-o do que para os demais.

O amor apresenta-se em variados matizes, que são resultados das diversas facetas da mesma gema, refletindo a luz em tonalidades especiais, conforme o ângulo de sua captação.

Expressa-se num misto de ternura e de companheirismo, de interesse pelo êxito do outro e de compreensão das suas dificuldades, de alegria pelas suas conquistas e de compaixão pelos seus desaires, de generosidade que se doa e de cooperação que ajuda.

Mesmo quando não aceito, não se entristece nem descamba em reações psicológicas de autopiedade, reservando-se o luxo de manter ressentimento, ou de propor o afastamento de quem o não recebe.

Pelo contrário, continua na sua tarefa missionária de enriquecer, às vezes, desaparecendo da presença para permanecer em vibrações de doçura e de paz, sustentando o opositor e diluindo-lhe as impressões perturbadoras.

Deve ser enunciado ou pode manter-se em silêncio, a depender das circunstâncias, das ocorrências, dos fenômenos que se derivam dos relacionamentos.

O importante é que transforme em ação paciente e protetora, sem asfixiar nem dominar a quem quer que seja.

Nunca desfalece, quando autêntico, embora haja momentos em que a sua luz bruxuleia um pouco, necessitando do combustível da oração que o fortalece, por vincular a criatura ao seu Criador, do qual promana como inefável recurso de plenitude.

Quando os racionamentos humanos experimentarem o estímulo do amor, os famigerados adversários da sociedade - guerras, calamidades, fome, violência, vícios - desaparecerão naturalmente, porque desnecessários entre os seres, em razão dos eus conflitos, agora atenuados, não mias buscarem esses mecanismos infelizes de sobrevivência, de exaltação do ego ou de dominação arbitrária do seu próximo.

O amor tudo pode e tudo vence. Não se afadigando mediante a pressa, estende-se ao longo do tempo como hálito que mantém a vida e brisa cariciosa que a beneficia.

Onde se apresenta o amor, os espectros do ódio, do ciúme, da cizânia, da maledicência, da perversidade, da traição, do orgulho, se diluem, cedendo-lhe o espaço para a fraternidade, a confiança irrestrita, a união, a estimulação, a bondade, a fidelidade, a simplicidade de coração.

O amor é um tesouro que mais se multiplica, à medida que se reparte, jamais desaparecendo, porque a sua força reside na sua própria constituição, que é de origem divina.

Nada obstante, o amor não conive, não se amolenta, não serve de capacho para facultar a ascensão dos fracos aos estágios superiores, nem se submete ante a exploração dos perversos e dos astutos.

É alimento do Espírito e irradiação do magnetismo universal.

Enquanto se deseja ser amado, embora não amando, ser compreendido, apesar de não ser compreensivo, não se atinge a meta do desenvolvimento espiritual. Nesse ser, que assim age, permanece a infância psicológica que deseja auferir sem dar, desfrutar sem oferecer.

O amor compraz-se na reciprocidade, porém, não a torna indispensável, porque existe com a finalidade exclusiva de tronar feliz aquele que o cultiva, enriquecendo aqueloutro a quem se dirige.

Em razão disso, é rico de valores, multiplicando-se incessantemente e oferecendo apoio, plenificação e paz a quem o ignorando, por indiferença ou desequilíbrio.

Afinal, sendo de essência divina, nunca será demasiado repetir-se que o amor é a emanação da vida, é a alma de Deus.


Franco, Divaldo Pereira. Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis. Página psicografada pelo médium Divaldo P.Franco, no dia 20 de setembro de 2002, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia..