segunda-feira, 25 de abril de 2011
Influência da música sobre os criminosos, os loucos e os idiotas
"De todos os tempos, reconheceu-se à música uma influência salutar para o abrandamento dos costumes; a sua introdução entre os criminosos seria um progresso incontestável e não poderia ter senão resultados satisfatórios; ela comove as fibras entorpecidas
da sensibilidade, e as predispõe a receber as impressões morais.
Mas isto é suficiente?
Não; é um trabalho sobre um terreno inculto, que é preciso semear de idéias próprias a fazerem, sobre essas naturezas desencaminhadas uma profunda impressão. É preciso falar à alma depois de ter amolecido o coração. O que lhes falta é a fé em Deus, em sua alma e no futuro; não uma fé vaga, incerta, incessantemente combatida pela dúvida, mas uma fé fundada sobre a certeza, a única que pode torná-la inabalável. Sem dúvida, a música pode a isso predispor, mas ela não a dá. Por isso não é menos uma auxiliar que não é preciso negligenciar. Essa tentativa e muitas outras, às quais a Humanidade e a civilização não podem senão aplaudir, testemunham uma louvável solicitude para o moral dos condenados; mas resta ainda alcançar o mal em sua raiz; um dia se reconhecerá toda a extensão que se pode tirar nas idéias espíritas, cuja influência já está provada pelas numerosas transformações que elas operam sobre as naturezas em aparência as mais rebeldes.
Aqueles que aprofundaram essa doutrina e meditaram sobre as suas tendências e as suas conseqüências inevitáveis, só eles podem compreender o poder do freio que ela opõe aos arrastamentos perniciosos. Esse poder prende-se a que ela se dirige à própria
causa desses arrastamentos, que é a imperfeição do Espírito, ao passo que a maior parte do tempo não se a procura senão na imperfeição da matéria. O Espiritismo, como doutrina moral, hoje não está mais no estado de simples teoria; entrou na prática, ao menos para um grande número daqueles que lhe admitem o princípio; ora, segundo o que se passa, e em presença dos resultados produzidos, pode-se afirmar sem medo que a diminuição dos crimes e delitos será proporcional à sua vulgarização. É o que um futuro próximo se encarregará de demonstrar. À espera disso, que a experiência se faça numa mais vasta escala, se faça todos os dias individualmente. A Revista disso fornece numerosos exemplos; limitar-nos-emos a lembrar as cartas dos dois prisioneiros, publicadas nos números de novembro de 1863, página 350, e fevereiro de 1864, página 44.
Deixamos aos nossos leitores o cuidado de apreciar o fato acima, relativo à loucura; sem contradita, é a mais amarga crítica dos alienistas que não conhecem senão as duchas e a camisa de força.
O Espiritismo vem lançar uma luz toda nova sobre as doenças
mentais, demonstrando a dualidade do ser humano, e a possibilidade de agir isoladamente sobre o ser espiritual e sobre o ser material. O número sem cessar crescente dos médicos
que entram nesta nova ordem de idéias, necessariamente, conduzirá a grandes modificações no tratamento dessas espécies de afecções. Abstração feita de idéia espírita propriamente dita, a constatação dos efeitos da música em semelhante caso é um passo no caminho espiritualista da qual os alienistas, geralmente, estão afastados até este dia, com grande prejuízo dos doentes.
O efeito produzido sobre os idiotas e os cretinos é ainda mais característico. Os loucos, quase sempre, foram homens inteligentes; ocorre de outro modo com os idiotas e os cretinos, que parecem votados, pela própria Natureza, a uma nulidade moral absoluta. O
Espiritismo experimental vem ainda lançar aqui a luz provando, pelo isolamento do Espírito e do corpo, que esses são, geralmente, Espíritos desenvolvidos e não atrasados, como poder-se-ia crer, mas unidos a corpos imperfeitos. A igualdade de inteligência, há esta diferença entre o louco e o cretino, que o primeiro é provido, no nascimento do corpo, de órgãos cerebrais constituídos normalmente, mas que se desorganizam mais tarde; ao passo que o segundo é um Espírito encarnado num corpo cujos órgãos atrofiados, desde o princípio, jamais lhe permitiram manifestar livremente o seu pensamento; está na situação de um homem forte e vigoroso a quem se teria tirado a liberdade de seus movimentos.
Esse constrangimento, para o Espírito, é um verdadeiro suplício, porque ele não tem menos a faculdade de pensar, e sente, como Espírito, a abjeção em que o coloca a suaenfermidade.Suponhamos, pois, que num instante dado se possa, por um tratamento qualquer, desligar os órgãos, o Espírito recobraria a sua liberdade, e o maior cretino se tornaria um homem inteligente; seria como um prisioneiro saindo de sua prisão, ou como um bom músico posto em presença de um instrumento completo, ou ainda, como um mudo recobrando a palavra.
O que falta ao idiota não são as faculdades, mas as cordas cerebrais respondendo a essas faculdades pelas suas manifestações. Na criança normalmente constituída, o exercício das faculdades do Espírito leva ao desenvolvimento dos órgãos correspondentes,
que não oferecem nenhuma resistência; no idiota, a ação do Espírito é impotente para provocar um desenvolvimento, permanecendo num estado rudimentar, como um fruto abortado.
A cura radical do idiota, portanto, é impossível; tudo o que se pode esperar é uma ligeira melhora. Para isto, não se conhece nenhum tratamento aplicável aos órgãos; é ao Espírito que é preciso se dirigir. Estudando as faculdades das quais se descobre o germe, é preciso provocar-lhe o exercício de parte do Espírito, e então este, superando a resistência, poderá obter uma manifestação, se não completa, pelo menos parcial. Se há um meio externo de agir sobre os órgãos, sem contradita, é a música. Ela chega a abalar essas fibras entorpecidas, como um grande barulho que chegue ao ouvido de um surdo; o Espírito a isso se comove, como numa lembrança, e sua atividade, provocada, redobra esforços para vencer os obstáculos.
Para aquele que não vê no homem senão uma máquina organizada, sem levar em conta a inteligência que preside ao funcionamento desse organismo, tudo é obscuridade e problema nas funções vitais, tudo é incerteza no tratamento das afecções; é por isso que,
o mais freqüentemente, se fere ao lado do mal; bem mais: tudo são trevas nas evoluções da Humanidade, tudo é apalpadela nas instituições sociais; é por isso que se faz, tão freqüentemente,
falso caminho. Admiti, somente a título de hipótese, a dualidade do homem, a presença de um ser inteligente independente da matéria, preexistente e sobrevivente ao corpo, que não é para ele senão um envoltório temporário, e tudo se explica. O Espiritismo,
por experiências positivas, fez desta hipótese uma realidade, nos revelando a lei que rege as relações do Espírito e da matéria.
Ride, pois, céticos, da Doutrina dos Espíritos, saída do vulgar fenômeno das mesas girantes, como a telegrafia elétrica saiu das rãs dançantes de Galvani; mas pensai que, negando os Espíritos, estais negando a vós mesmos, e que se riu das maiores descobertas"
Allan Kardec
Revista Espírita de setembro de 1864
Gostaria particularmente de ressaltar o vanguardismo e o bom senso do nosso querido mestre lionês nesse artigo da Revista Espírita quando afirma que a deficiência mental não tem cura diz uma verdade fundamentada pela Ciência. Na época em que os doentes mentais eram amarrados em camisas de força, afirma que a Medicina mudará a forma de tratar o doente psiquiático quando considerá-lo sob a ótica material e espiritual indicando uma nova forma de tratamento humanizado, a Musicoterapia, aplicada aos deficientes mentais denominados "idiotas" sem a conotação pejorativa atual, vislumbra um novo tipo de tratamento complementar e inovador.
Deixo aqui registrada uma análise atual da Musicoterapia e educação especial, extraído do blog musicoterapia-saopaulo.blogspot.com:
A música vem sendo utilizada como cura desde os primórdios da humanidade, mas se estabeleceu como ciência somente após a Segunda Guerra Mundial. A Musicoterapia tem inúmeras aplicações, entre elas síndromes genéticas como Down, Turner e Rett, distúrbios neurológicos, distúrbios emocionais, deficiências sensoriais, visuais e auditivas, autismo, entre outras.
Principais metas da Musicoterapia na educação especial:
l Estimular a comunicação (verbal e não verbal);
l Estimular a expressão corporal, vocal e sonora (através de instrumentos musicais, dança e canto);
l Melhorar a auto-estima;
l Explorar as potencialidades e a conscientização dos próprios limites;
l Estimular a coordenação motora grossa e fina através de atividades musicais, utilizando instrumentos musicais de percussão simples;
l Melhora da orientação espacial e corporal através de vivências musicais;
l Expandir a capacidade de atenção e concentração;
l Estimular a imaginação e criatividade;
l Exercitar a memória;
l Promover um melhor relacionamento intra e interpessoal;
l Atenuar a carência afetiva através de vivências grupais;
Os objetivos gerais podem variar de acordo com as características do grupo ou indivíduo, suas necessidades e peculiaridades.
No autismo, por exemplo, a Musicoterapia atuará no desenvolvimento e estabelecimento de canais de comunicação através da música e do som, se estendendo posteriormente para a comunicação verbal. Com indivíduos portadores de déficits de aprendizagem ou atraso mental, o principal objetivo será focar a cognição e aprendizagem. Em crianças com paralisia cerebral e síndromes que envolvam déficits motores, a Musicoterapia enfocará também o uso de ritmos e instrumentos musicais, agindo tanto como estímulo à comunicação e cognição como na melhora da motricidade.
Na deficiência visual, a música age como excelente forma de expressão e estimulação, auxiliando a localização espacial, a cognição e raciocínio e permitindo a expressão de conteúdos internos de uma forma não verbal. Já na deficiência auditiva, a Musicoterapia trabalha com o tato utilizando vibrações sonoras e instrumentos musicais como material estimulador.
Independente das necessidades provenientes de cada patologia citada acima, a Musicoterapia valoriza a expressão de cada indivíduo, respeitando suas particularidades e auxiliando-o em suas dificuldades, como um ser global.
Os métodos e materiais utilizados serão: a voz, o corpo, instrumentos musicais de fácil manejo e execução, materiais lúdicos-educativos e, ocasionalmente, aparelho de som e CDs específicos.
A Musicoterapia trabalha com tratamentos individuais ou em grupo. Os tratamentos individuais possibilitam um melhor conhecimento do paciente, o estabelecimento de uma relação terapêutica mais personalizada e uma aplicação mais precisa às suas necessidades. São indicadas para alguns casos de autismo, psicoses e distúrbios graves de personalidade. Os tratamentos grupais possibilitam o aprofundamento do autoconhecimento do paciente, mudanças no afeto, cognição e comportamentos e estimula a sociabilização. Os grupos são formados de acordo com as deficiências, idade mental e cronológica, afinidade de gostos musicais e aspectos culturais (quando possível).
BIBLIOGRAFIA
BLASCO, S. P. – Compendio de Musicoterapia; Vol. I, Empresa Editorial Herder, S.A., Barcelona, 1999.
GASTON, E. T – Tratado de Musicoterapia, Ed. Paidos, Buenos Aires, 1968.
JOURDAIN, R. – Música, Cérebro e Êxtase: Como a música captura nossa imaginação, Ed. Objetiva, Rio de Janeiro, 1998.
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